01/06/2015 15h47 – Atualizado em 01/06/2015 15h47
CNA e Embrapa realizaram, hoje, Dia de Campo, com 200 convidados, para mostrar os avanços das experiências realizadas
Há cinco anos, os produtores rurais Adriano Varella Galvão e José Brilhante Neto cederam uma parte de sua propriedade para servir de vitrine para o Projeto Biomas Cerrado, que dava seus primeiros passos graças a uma parceria recém-formada entre Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Com a iniciativa, as duas instituições buscavam conciliar produção de alimentos e preservação do meio ambiente, sem perder rentabilidade, ou seja, trazendo ainda mais ganhos econômicos para as propriedades rurais.
Para alcançar este objetivo, CNA e Embrapa começaram um trabalho de campo com ampla pesquisa para a identificação de espécies de árvores nativas e exóticas que poderiam ser incorporadas à produção e utilizadas para a recomposição de áreas de vegetação abertas ou desgastadas pela erosão. A partir daí, começaram os experimentos, com o plantio de mudas e sementes para a incorporação do componente arbóreo ao sistema de produção e às áreas a serem recuperadas ambientalmente. O projeto também ganhou outros parceiros, como o Serviço Brasileiro de Apoios às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), John Deere, Monsanto e Guzerá da Capital.
Cinco anos depois, surgem os primeiros resultados destas experiências no Cerrado, apresentados nesta sexta-feira (29/5) no Dia de Campo – Biomas Cerrado, na Fazenda Entre Rios, localizada na região do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), a 65 quilômetros de Brasília. O evento contou com a presença de 200 convidados, entre técnicos e profissionais ligados ao setor agropecuário, estudantes e produtores rurais. No local, já é possível perceber os ganhos na propriedade, mostrando que é possível aumentar a renda com a produção sustentável.
“Essa é a ideia que queremos passar”, destacou o coordenador-geral do Projeto Biomas, Gustavo Ribas Curcio. “Com este projeto, daremos ao produtor um indicativo do que ele pode fazer na sua propriedade”, afirmou a coordenadora executiva do Projeto Biomas na CNA, Cláudia Rabello. Para o secretário executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Daniel Carrara, os resultados apresentados representam a concretização da bandeira da produção sustentável. “É um pouco do que a ciência pode propor ao produtor rural, sem que ele perca competitividade”, ressaltou, informando que o SENAR será responsável pela capacitação de multiplicadores para as ações do projeto.
Adriano Galvão, sócio da propriedade, destacou os ganhos do projeto em sua propriedade e acrescentou o que os produtores rurais podem ganhar com a produção sustentável. “Muitas vezes o produtor quer preservar sua propriedade da forma correta, mas faltava orientação. O Projeto Biomas veio para dar esta luz ao produtor rural”. Já o coordenador do Projeto Biomas no Cerrado, Felipe Ribeiro, explicou o cultivo de espécies arbóreas e herbáceas dentro da propriedade no mesmo espaço e como o produtor rural pode lucrar com esta proposta.
Experimentos – Os experimentos do Projeto Biomas Cerrado estão divididos em quatro estações. Em duas delas, há espécies arbóreas e herbáceas plantadas para a recuperação da mata ciliar na beira do córrego que passa dentro da propriedade. O objetivo é recuperar uma área desgastada pela erosão, que provocou a formação de uma voçoroca (buraco) no local, e deixou o solo pobre e seco. Com a experiência, a ideia é, além de recuperar a área afetada, impedir que haja novas erosões.
Em outras duas estações, há o plantio de árvores nativas e exóticas nas áreas de reserva legal da propriedade, muitas delas com fins comerciais, como espécies madeireiras e frutíferas. O objetivo é acabar com o mito de que estas áreas não podem ser utilizadas comercialmente. Muito pelo contrário. É aí que entra a tese de que o produtor rural pode ter ainda mais lucro, Os proprietários vão poder explorar as espécies preservando ambientalmente as áreas contempladas. O resultado final das experiências só poderá ser visto daqui a alguns anos, mas o trabalho está no caminho certo.
“TIREI O MEU SUSTENTO DO CERRADO, DE ONDE AS FRUTAS VIRAM PICOLÉS”, DIZ PRODUTOR RURAL
“Meu avô era raizeiro. Ele tinha 94 anos e eu era menino, mas ele me levava para o meio do cerrado para arrancar as raízes e fazer remédio. Ele foi me ensinando a amar o Cerrado”. Foi assim que Clóvis José de Almeida, produtor rural, começou a contar a sua história. Ele participou do 1º Dia de Campo do Projeto Biomas no Cerrado, realizado nesta sexta-feira, 29 de maio, na Fazenda Entre Rios, localizada à 60 quilômetros de Brasília.
“Naquela época, não tinha os remédios que temos hoje. E meu avô pegava jatobá e macaíba para as crianças que nasciam com ‘amarelão’. Ele amava o que fazia. Ele sempre dizia que a gente pode comer tudo o que passarinho come. E fui aprendendo sobre raízes, flores e frutas”, continuou contando o produtor.
Seu Clóvis explicou que passou por momentos difíceis na vida. Capinava terrenos e vendia picolé na rua para complementar sua renda. Passou um longo período desempregado. “Tinha dia que eu não vendia nenhum picolé. Voltava triste para casa”, lembra. Foi quando ele recebeu uma proposta de fazer o próprio picolé. Seu Clóvis ganharia uma máquina de fazer picolé e a metade da produção seria dele. A outra metade era do dono da máquina.
Com a máquina de picolé nas mãos, Seu Clóvis pensou em usar como ingrediente as frutas que ele via estragar no pé. “Mangaba é delicioso e ninguém comia!”, disse. Foi assim que ele começou sua produção de picolés de frutas do Cerrado: Araçá, Araticum, Brejaúba, Buriti, Gabiroba, Graviola, Jabuticaba, Mamacadela.
As frutas do Cerrado que Seu Clóvis aprendeu a amar desde os tempos que ia para o mato com o avô, serviram de inspiração para uma nova linha de produtos. “Eu comprava fruta dos vizinhos porque minha terra era muito pequena. Hoje, tenho 15 hectares com 116 variedades de frutas nativas do Cerrado. Toda a minha produção, uso para fazer os picolés. Já quase morri de fome, mas hoje vamos começar a exportar as frutas do cerrado, em formato de picolé e sorvete, para países da Europa e Estados Unidos”, finalizou. Trata-se do picolé Sabores do Cerrado, que se transformou na agroindústria Frutos do Brasil.
Seu Clóvis contou sua história aos 200 participantes do Dia de Campo do Projeto Biomas no Cerrado.
Várias pesquisas apresentadas pela equipe do Projeto Biomas mostram o potencial da árvore frutífera para Recuperação de Reserva Legal e para Área de Preservação Permanente. “Esses experimentos demonstram como o produtor rural pode ter renda sem deixar de cumprir a legislação ambiental vigente”, explica Felipe Ribeiro, Coordenador Regional do Projeto Biomas no Cerrado.
No Dia de Campo, foram apresentados 12 dos 22 experimentos implantados na área experimental do Bioma Cerrado. “Foi uma grande oportunidade de mostrar os primeiros resultados dos últimos 5 anos de trabalho”, comemorou Cláudia Rabello, Coordenadora do Projeto Biomas na CNA.
Sobre o Projeto Biomas
O Projeto Biomas, iniciado em 2010, é fruto de uma parceria entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a participação de mais de quatrocentos pesquisadores e professores de diferentes instituições, em um prazo de nove anos.
Os estudos estão sendo desenvolvidos para viabilizar soluções com árvores para a proteção, recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos diferentes biomas brasileiros.
O Projeto Biomas tem o apoio do SENAR, SEBRAE, Monsanto e John Deere.


